O Brasil está mais de três anos atrasado no planejamento para acabar com os lixões no país e cerca de 70% dos municípios ainda acumulam resíduos sólidos a céu aberto, segundo o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes (Abetre), Carlos Fernandes. “Não tem proteção ou tratamento de chorume nesses lixões e isso causa contaminação das águas subterrâneas. A recuperação de uma contaminação é um processo complicado e caro” afirmou.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), definida em 2010, determinava a erradicação de todos os lixões brasileiros até 2014, de acordo com Fernandes. Mas a falta de recursos para investir na infraestrutura do setor posterga cada vez mais o conserto da situação. “É um problema econômico. A tecnologia para tratar os resíduos existe, mas falta dinheiro para fazer”, disse o presidente da Abetre. Para agravar o cenário, segundo ele, alguns municípios que já haviam resolvido o problema de destinação de resíduos sólidos, organizando aterros sanitários, estão regredindo por conta da crise econômica.
É o caso de pequenas cidades, distantes de regiões metropolitanas, apontou o professor de gestão ambiental da UFRGS, Darci Barnech Campani. Campani citou que houve melhorias no setor em algumas regiões, como o tratamento dos “dois maiores lixões do Brasil”: o Gramacho, no Rio de Janeiro, fechado em 2012, e o Estrutural, em Brasília, que está em processo de fechamento. Mas afirmou que o país “nunca teve infraestrutura nem para o mínimo de tratamento” em relação à quantidade de resíduos gerada.
O brasileiro produz hoje cerca de 1,5 kg de resíduos domiciliar por dia, com potencial de poluição, já que grande parte é composta por matéria orgânica, explicou Campani. “Esses resíduos chegam aos nosso rios e lençóis freáticos, além de criarem ambiente favorável para o desenvolvimento de moscas, baratas, ratos e outros transmissores de doença”, acrescentou o professor. A Organização Pan-americana da Saúde estima que a cada R$ 1 investido em saneamento, o governo economizaria R$ 5 em gasto em saúde.
“De nada adianta a coleta seletiva se não há elementos que utilizem esses resíduos”, apontou a professora do Departamento de Ciências Ambientais da UFSCar, Erica Pugliesi.
De acordo com a PNRS, a destinação de resíduos é compreendida por etapas de reutilização, reciclagem, compostagem, recuperação e aproveitamento energético do lixo. A última medida é a disposição final no solo, em um aterro sanitário controlado e licenciado. “Os resíduos sólidos, uma vez que gerados, devem permanecer o máximo de ciclos possível na cadeia produtiva”, reforçou a professora. No entanto, sem a infraestrutura necessária, esse processo não acontece.
Os impactos são diversos, nos âmbitos ambiental, com a contaminação de rios e do solo; social, por conta da deficiência no saneamento e elevação do risco de doenças; e econômico, devido gastos para recuperar os problemas causados pela contaminação e desperdício de fontes de energia, segundo Erica. A PNRS foi o primeiro passo para desenvolver a infraestrutura de destinação de resíduos sólidos, afirmou a professora, “funciona como um norteador” de metas e caminhos para alcançá-las. Os mecanismos de fiscalização e de incentivo permitem redução nos gastos do projeto, continuou.
O que falta para que a PNRS realmente funcione na prática é conscientização e cobrança da população, indicou Fernandes. O país só tem a ganhar: “as pessoas são beneficiadas com uma melhor qualidade de vida; não ha contaminação do solo, ar e água; empregos são gerados em cooperativas de reciclagem ou indústrias de transformação”, concluiu Erica.
Fonte: Yahoo Notícias