“Nosso objetivo principal é atender o mercado livre de gás natural” Nelson Gomes
Robson Rodrigues
De São Paulo
A Compass, empresa de distribuição de gás e infraestrutura da Cosan, e a São Martinho firmaram um contrato para vender biometano, um tipo de gás produzido de forma sustentável. A São Martinho, em sua unidade em Santa Cruz, Américo Brasiliense (SP), será a responsável por produzir o energético e a Compass Comercialização irá disponibilizá-lo no mercado. O valor do contrato não foi divulgado.
O biometano é conhecido como gás natural renovável e é obtido a partir da purificação do biogás, uma mistura de gases que têm como origem o processo natural de decomposição de resíduos orgânicos em ambientes onde não há troca de ar — a digestão anaeróbica
O biogás será produzido a partir da biodigestão da vinhaça de cana-de-açúcar da fabricação de etanol e marca a entrada da empresa no mercado de gás natural de origem renovável. A planta de biometano da Santa Cruz tem investimento de R$ 250 milhões anunciado pela São Martinho em outubro. Já a Compass vem apostando no biometano e recentemente se uniu com a Orizon, para formação de uma joint venture, com objetivo de construir uma unidade de biometano no aterro de Paulínia (SP).
O início de fornecimento está previsto para o segundo semestre de 2025. O contrato tem um prazo de cinco anos renováveis por mais cinco e volume médio de produção de 63 mil metros cúbicos de biometano por dia durante o período de safra (abril a novembro) volume equivalente ao consumo de gás natural, em média, de 12.600 veículos de passeio. O volume é apenas a ponta do iceberg, já que hoje a Compass comercializa cerca de 15 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural
Ao Valor, o CEO Compass, Nelson Gomes, conta que este é o maior contrato de biometano proveniente de vinhaça e um dos objetivos é aumentar o volume distribuído desse produto. Mesmo assim, segundo o executivo, hoje há uma demanda não atendida. A ideia da empresa é montar um portfólio de soluções aos clientes na direção de uma transição energética.
“Fica claro para o mercado que a gente entrou nesse mundo do gás natural renovável para valer. Isso tem muito a se desenvolver, por isso a importância de um contrato como este no contexto de transição energética (…). Nosso objetivo principal é atender o mercado livre de gás natural, este cliente que busca a descarbonização contínua e crescente do seu processo produtivo”, afirma Gomes.
O presidente de São Martinho, Fabio Venturelli, explica que neste mercado livre o consumidor pode optar por uma parcela do seu consumo de biometano e gás natural. Ele acrescenta que o novo negócio permite elevar a rentabilidade por hectare cultivado. Segundo Venturelli, o valor energético do contrato é praticamente igual ao valor energético da movimentação da frota da usina onde a produção acontecerá. O autoconsumo seria um caminho para a descarbonização da unidade e zerar o consumo de diesel, mas o executivo diz que ainda não é viável.
“Hoje não existe ainda consumo em caminhão, carreta. A tecnologia de caminhões e equipamentos agrícolas para rodarem com gás ainda não está disponível, mas a ideia é que a frota da unidade de São Martinho utilize o biometano (…). Com o crescimento da moagem nas nossas usinas, teremos uma nova frente e deixa a gente com uma opção muito importante, seja comercializando, seja no consumo próprio”, explica.
A unidade da São Martinho está estrategicamente localizada próxima da Necta (antiga Gás Brasiliano), companhia da Commit, outra controlada pela Compass. A empresa é responsável pela distribuição de gás natural canalizado na região noroeste de São Paulo. Como a regulação permite a intercambialidade do energético com o gás natural e a possibilidade da mistura da molécula nos dutos de gás natural, o biometano vai ser injetado na rede. Venturelli diz que a decisão de replicar o modelo para outras unidades da São Martinho ainda não está tomada. Algumas plantas queimam o biogás para gerar eletricidade, outras vendem com a distribuição feita via caminhão.
“A escolha desta usina passou por esta análise por estar próxima da infraestrutura existente. É um primeiro passo lógico começar por onde a infraestrutura já existe, já que somos os detentores da molécula e do lado há um grande comercializador (…). Levar isso para as outras unidades é uma possibilidade grande, mas não tem uma decisão tomada.