ND+ – 12/07/2024
Santa Catarina, o primeiro Estado brasileiro a erradicar os lixões, tem muito a mostrar quando o assunto é gestão de resíduos sólidos. Aqui também estão as primeiras cidades a fazer concessões para a gestão de resíduos, subsidiadas por tarifas cobradas da população.
No entanto, o Estado enfrenta desafios significativos. De acordo com um levantamento do TCE/SC (Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina), realizado em 2023, 89% dos 80 municípios pesquisados – de pequeno, médio e grande porte – indicam que seus Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos não estão em conformidade com o Marco Legal do Saneamento Básico.
Entre os pontos destacados no estudo e que merecem atenção dos gestores públicos estão: municípios sem plano de gestão de resíduos sólidos; a não instituição da cobrança de taxas ou tarifas; baixa cobertura de coleta de lixo doméstico; pontos de descarte irregular de resíduos sólidos; depósitos a céu aberto de resíduos da construção civil; e até aterros sanitários desativados sem qualquer meio de monitoramento.
Professor do Departamento de Engenharia do Conhecimento do Centro Tecnológico da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Hans Michael atua na área de gestão da sustentabilidade e acredita que a economia circular pode ajudar na melhor gestão dos resíduos sólidos. Ele será um dos painelistas do seminário sobre o tema que o Grupo ND promoverá na próxima quarta-feira (17), visando chamar atenção para os problemas e apontar soluções.
Michael ressalta que o acúmulo de resíduos pode gerar inúmeros problemas e que a gestão adequada impacta diferentes esferas.
“Na dimensão ambiental, temos a redução do impacto na natureza, da contaminação de solo, água e ar. E é uma questão de saúde pública. À medida que mitigamos a contaminação, a população é menos afetada por problemas de saúde e os custos com saúde pública caem”, explica.
Outro ponto importante é a quantidade de resíduos gerados.
“É aí que a economia circular pode ajudar. A preocupação é gerar menos resíduos e impactos, reduzindo a necessidade de transportar resíduos até o local adequado. Além disso, é importante aproveitar melhor os resíduos, transformando-os em matéria-prima para outros processos”, sugere.
O professor cita o exemplo de Amsterdã, na Holanda: “Até 2030, a cidade pretende reaproveitar grande parte dos resíduos da construção civil, incentivando outras empresas e produções específicas”, ressalta.
Modelo de trabalho da Veolia é alinhado ao marco do saneamento
A empresa francesa Veolia atua há duas décadas no Brasil, após o começo em Santa Catarina. Atualmente, a empresa tem 1.100 colaboradores no Estado e diversas operações no manejo de resíduos sólidos, fazendo desde a coleta de resíduos domiciliares, em dez municípios catarinenses (Navegantes, Araquari, Brusque, Barra Velha, Balneário Piçarras, Penha, Palhoça, Biguaçu, Bombinhas e Tijucas), até o transbordo, transporte e tratamento em outros.
O diretor Regional Sul da Veolia Brasil, Hanokh Yamagishi explica que, no Litoral Norte, a empresa tem as chamadas concessões de resíduos sólidos, que consistem em contratos de longo prazo e modelos de concessão com cobrança direta da população.
“É um modelo alinhado ao novo marco do saneamento, onde há um instrumento específico de cobrança para subsidiar os serviços de manejo de resíduos sólidos.
A Veolia trata resíduos por meio de dois processos principais: autoclavagem, que trata parte dos resíduos, e o incinerador, que trata o resíduo do grupo B, como remédios vencidos, por exemplo.
Em SC, resíduos sólidos de 41% da população são destinados corretamente
Hoje, a Veolia tem quatro aterros sanitários em Santa Catarina. Eles ficam em Blumenau, Brusque, Biguaçu e Içara.
“São aterros regionais, que contribuem para uma disposição ambientalmente adequada desses resíduos. Em Santa Catarina, 41% dos habitantes têm resíduos sólidos enviados para destinação ambientalmente adequada”, explica Yamagishi.
A operação da Veolia em Santa Catarina começou na compra do aterro sanitário de Biguaçu, há duas décadas e hoje a empresa lida com resíduos de mais de 3 milhões de pessoas. A empresa chama os CGR (Centros de Gerenciamento de Resíduos) de parques tecnológicos ambientais, porque possuem mais de uma tecnologia.
“Em Biguaçu, captamos biogás gerado na decomposição da matéria orgânica, limpamos, tratamos e colocamos dentro de três motores, onde geramos energia. Tem capacidade para gerar energia para 12 mil pessoas. Em Brusque, há uma central de triagem de recicláveis. No Sul, uma planta de produção de biometano, tratamento do biogás gerado no aterro, para ser usado como combustível de duas empresas de cerâmica”, comenta o diretor.
Ao todo, a empresa atende 68 municípios de Santa Catarina. Aqui, e no mundo, quer contribuir ainda mais.
“A Veolia tem a meta de reduzir em 50% suas emissões de CO² equivalente até 2032. E até 2050 a meta é ter emissões zeradas, com formas de compensação.”
Dos ecopontos aos brechós
Voltando ao contexto local, Michael cita os ecopontos.
“Nesse caso é pegar todo material descartado, colocar num local adequado, para dar boa destinação. Em Florianópolis, funciona como uma redistribuição de algo que virou resíduo e pode se transformar em produto para outro agente”, pontua.
Ele também menciona a solução dos brechós.
“A ideia de qual destinação você vai dar às suas vestimentas usadas. Estamos passando por um período de frio e poderíamos aproveitar as roupas que não usamos mais. Os brechós vieram nessa perspectiva.”
Também há movimentos que aproveitam resíduos orgânicos para geração de energia. Para ele, há muito o que melhorar.
“Não quer dizer que não fizemos nada, mas não devemos ficar parados. Um novo olhar, encontrando desperdício de matéria, energia ou geração de resíduos. Repensando, é possível reaproveitar.”
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