VALOR ECONÔMICO – 30/08/2024

Os aterros sanitários mais estruturados, geralmente privados, não se limitam à tarefa de depósito final de lixo. Estão cada vez mais se posicionando como unidades de reaproveitamento de resíduos. As configurações produtivas mudam, mas podem abranger estação de triagem e processamento de material reciclável, estação de processamento de biogás para a geração de energia elétrica ou biometano e, ainda, fábricas de fertilizantes.

“Essas atividades geram receitas acessórias, que respondem por algo entre 25% e 35% do faturamento dos aterros”, afirma Pedro Maranhão, presidente da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema).

A parcela principal do faturamento dos aterros, por volta de 70% do total, é obtida com o serviço de disposição final do lixo no solo. Municípios e grandes empresas comerciais e industriais são os principais clientes desse serviço especializado.

O grupo Orizon possui 17 aterros sanitários em 12 Estados brasileiros. No ano passado, processou 8,4 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. Em nove unidades, chamadas de ecoparques, já funcionam estruturas de valorização dos resíduos compostas de estações de triagem e processamento de materiais recicláveis para a industrialização, estações de produção de biomassa para a indústria de cimento, material britado para a construção civil e fertilizante verde produzido a partir do lodo.

Há também cinco plantas de transformação do biogás, capturado nos aterros, em energia elétrica, tendo produzido 129 mil MWh/ano em 2023.

Hoje, a Orizon possui uma planta de purificação do biogás para a produção de biometano, mas já executa um programa de investimentos de R$ 1,2 bilhão para mais oito plantas de biometano que serão capazes de produzir juntas mais de um milhão de metros cúbicos por dia. “Nosso plano é transformar nos próximos anos todos nossos aterros em ecoparques completos”, diz Milton Pilão, CEO da Orizon.

As receitas acessórias respondem por algo entre 35% a 40% do faturamento da Orizon. “Quando todas as unidades estiverem operando como Ecoparques maduros, com todas estruturas de valorização dos resíduos, nossa expectativa é que as receitas acessórias respondam por 80% do faturamento”, afirma Pilão.

A Ciclus Ambiental, empresa do grupo Simpar, administra dois aterros sanitários. No Rio de Janeiro, ela manipula 10 mil toneladas por dia de resíduos provenientes da capital do Estado e de seis cidades da Grande Rio, além de material de clientes privados. A estrutura é formada por cinco estações de transferências de resíduos (ERTs) e uma central de tratamento de resíduos (CRT) em Seropédica, onde está localizado o aterro sanitário.

No CRT de Seropédica, a companhia gera 23 mil m3 por hora de biogás, que equivale a 10% da produção nacional do insumo. A companhia mantém uma estrutura própria de transformação do biogás em energia elétrica, com produção de 2,8 MWh, sendo 1 MWh para consumo próprio e 1,8 MWh vendida no mercado. Para 2025, dois novos equipamentos vão expandir a produção para 8,4 MWh. “Energia suficiente para atender 90 mil pessoas”, compara Fernando Quintas, CEO da Ciclus Ambiental.

O biogás gerado no aterro também alimenta uma planta de biometano terceirizada para a Gás Verde. A unidade produz 13 mil m3 por hora que é vendido para postos de combustíveis e indústrias da região. O CRT também é equipado com uma unidade de tratamento de dois milhões de litros de chorume por dia, que gera água de reúso.

Em 2024, a Ciclus Rio deve gerar uma receita na casa de R$ 550 milhões. “Por volta de 25% será obtido com receitas acessórias”, afirma Quintas. Outra fonte de renda extra para a empresa, mas não constante, é a comercialização de crédito de carbono, já tendo sido negociados 2,5 milhões de certificados.

Em janeiro, a Ciclus Ambiental assinou contrato de coleta, limpeza urbana e destinação final de resíduos urbanos com a prefeitura de Belém (PA). O contrato de 30 anos prevê investimentos de R$ 700 milhões. Um dos objetivos é recuperar a área do lixão do Aurá, um dos maiores do país, e instalar um CRT nos moldes da unidade de Seropédica.

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Fonte: Valor Econômico
https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/saneamento/noticia/2024/08/30/aterro-sanitario-gera-receita-com-reaproveitamento-de-residuos.ghtml