Fontes: Oceana; The Circularity Gap Report Latin America and the Caribbean.
Foto: AP Photo/Rajanish Kakade
Daniela Chiaretti
De São Paulo
A Finlândia, país de 5,5 milhões de habitantes, foi a primeira nação a criar um roteiro nacional para a economia circular, com a intenção de substituir a extração de recursos pela transformação de produtos existentes e eliminar o lixo. A educação tem sido pilar fundamental para promover a mudança em todos os níveis da sociedade finlandesa e mostrar que economia circular é muito mais do que reciclagem.
Uma delegação de funcionários da Sitra, fundo de investimento finlandês que tem mais de 50 anos e foi criado para garantir competitividade e crescimento ao país olhando para o futuro, esteve no Brasil na semana passada. A intenção era estabelecer cooperação no desenvolvimento do plano nacional de economia circular, que o Brasil começa a desenvolver. Outro objetivo foi prospectar se o país pode sediar o World Circular Economy Forum em 2025. Seria a primeira vez que o evento internacional ocorreria na América Latina.
A delegação finlandesa teve encontros nos ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, do Meio Ambiente e das Relações Exteriores. Visitou também a Confederação Nacional da Indústria, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Fiesp.
“Vivemos no momento em sociedades com economias que extraem materiais, com eles produzimos artigos, os usamos e depois os mandamos a aterros sanitários”, diz Kari Herlevi, diretor de Soluções Sustentáveis do Fundo Sitra. “A economia circular é uma oportunidade para muitos países que estão desperdiçando seus recursos”, continua Herlevi.
O estudo “Circularity GA Finlândia tem deixado de enviar lixo para aterros sanitários e usado os resíduos para gerar energia, reciclar e reusar. O Brasil, contudo, ainda tem centenas de municípios com lixões que não foram fechados e o lixo enviado a aterros. O estudo “Circularity Gap Report Latin America and the Caribbean”, encomendado por instituições multilaterais como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mostra que a região exporta mais que o dobro dos materiais que importa — sendo que 40% deste volume é extraído todos os anos. “O rápido crescimento na demanda de materiais se tornou um dos principais fatores da degradação ambiental e das desigualdades sociais da região”, diz o estudo.
Estratégias de implementação da economia circular poderiam reduzir em 30% o uso de materiais e a pegada de carbono da região, além de criar 8,8 milhões de novos empregos formais.
Um dos desafios globais, e do Brasil, é lidar com a poluição plástica. Em 50 anos, o consumo global de plásticos aumentou mais de 20 vezes, produzindo resíduos e poluição no solo, rios e oceano, danos à saúde e à biodiversidade e perdas econômicas na pesca e no turismo.
A eliminação da poluição plástica está sendo discutida internacionalmente, com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente incumbido de criar um comitê intergovernamental que produza, até o fim de 2024, o texto de um tratado global juridicamente vinculante para equacionar o desafio. Delegações de todos os países estão reunidos esta semana em Nairobi, no Quênia, em mais uma rodada de negociações.
No Brasil está em análise no Senado o texto do PL 2524/2022, de Jean-Paul Prates (presidente da Petrobras) sobre regras à economia circular do plástico.
A União Europeia lançou seu plano de De São Paulo De todo o plástico produzido globalmente entre 1950 e 2017, apenas 9%foi reciclado.O índice brasileiro é ainda mais tímido — o Brasil produz mais de 500 bilhões de itens de plástico descartável ao ano e a maioria não têm valor para a reciclagem, o fim da cadeia e o resultado mais evidente do problema. Políticas públicas, soluções a preços acessíveis,transição para a economia circular em 2015 e o atualizou em 2020, como parte do Green Deal europeu. Em fevereiro, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução com mais medidas para que o bloco tenha economia circular e neutra em carbono em 2050.
Sitra também é um “think tank” e trabalha com foco na transição da economia que combata as causas da perda de biodiversidade, mudança do clima e consumo exagerado dos recursos. Tornou-se o maior investidor de capital da Finlândia, promovendo pesquisa e inovação. Hoje é uma instituição pública que presta contas a o Parlamento finlandês, e trabalha para preservar a democracia . “Trabalhamos sob a perspectiva da Finlândia, mas muitos dos nossos temas são globais”, diz Herlevi.