O GLOBO – 10/12/2024

O Brasil produziu 80,96 milhões de toneladas de resíduos em 2023, o equivalente a uma média individual de 382kg. O volume é ligeiramente maior que o registrado no ano anterior, quando foram registrados 380kg per capita. Os dados foram revelados no Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2024, lançado pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema).

O levantamento mostra que cerca de 69,3 milhões de toneladas de resíduos foram encaminhadas para decomposição final, seja a ambientalmente adequada em aterros sanitários, ou inadequada, como aterro controlados e lixões. A quantidade corresponde a 85,6% do montante gerado no país no ano passado e não considera reciclagem, reutilização, compostagem, queima em residências ou disposição irregular em terrenos e via pública.

Os dados apontam que, do total encaminhado para disposição final, 41% dos resíduos, ou 28,7 milhões de toneladas, foram destinados a lixões, aterros irregulares, valas, terrenos baldios e córregos urbanos, o que provoca malefícios ao meio ambiente e a saúde pública.

Ainda que a Política Nacional de Resíduos Sólidos tenha determinado que, desde 2 de agosto de 2024, nenhum lixão deveria estar ativo no país, o Brasil tem, aproximadamente, 161 mil toneladas de lixo que foram enterradas na propriedade do gerador.

Por outro lado, pouco mais de 40,5 milhões de toneladas de resíduos foram enviadas para aterros sanitários ambientalmente regulares, o equivalente a 58,5% do total gerado no Brasil no ano passado.

— O panorama traz como notícia boa que o índice de resíduos destinados para reciclagem dobrou de 2022 para 2023, passando de 3,5% para 8% do total. Entre as causas está o aumento da coleta seletiva e o crescimento do número de materiais coletados por catadores informais, o que mostra a importância de incluir esses trabalhadores nas discussões sobre políticas públicas. Já o diagnóstico ruim é o de que o Brasil ainda tem três mil lixões, que fomentam o efeito estufa e trazem perda econômica — ressalta Pedro Maranhão, presidente da Abrema.

Segundo a pesquisa, o total de resíduos coletados no ano passado cresceu 0,4% em relação a 2022. Ao todo, 93,4% foram recolhidos por serviço regular de coleta (87,8%) ou pela atividade de coletores informais (5,6%). A quantidade equivale a 75,6 milhões de toneladas, uma média de aproximadamente 207 mil toneladas de resíduos coletadas diariamente no país.

Desigualdade regional

O relatório indica que o Sudeste e o Sul do Brasil apresentaram melhor desempenho em relação à disposição de resíduos — os aterros sanitários são o destino de mais de 67% dos resíduos encaminhados para disposição final nessas regiões. Já o pior resultado foi observado no Norte, onde essa destinação ocorreu para somente 38% dos resíduos.

— Os dados mostram como os lixões refletem as desigualdades socioeconômicas brasileiras. Mesmo proibidos, eles seguem como uma chaga social e ambiental no Brasil, recebendo quantidades inaceitáveis de resíduos sólidos todos os dias. É importante que gestores cumpram a lei e implementem as medidas necessárias para a proteção da saúde da sua população e não mais adiem soluções que só trazem prejuízos para todos — pontua Maranhão.

Já em relação à coleta seletiva, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste estão acima da média nacional, com 97,2%, 98,8% e 95,2% dos resíduos coletados, respectivamente. Na outra esfera, as regiões Norte e Nordeste coletam aproximadamente 83% do lixo produzido.

Transformação em biocombustível

O levantamento destaca o potencial de produção do biocombustível a partir do melhor aproveitamento dos resíduos coletados. O cenário se dá a partir do aproveitamento do biometano, um combustível renovável gerado por meio da decomposição de matéria orgânica nos aterros sanitários.

Nesse processo, o metano — gás mais poluente que o carbônico se liberado na atmosfera — é capturado de forma segura e reaproveitado para a geração de eletricidade.

Conforme cenário analisado no panorama, se todas as cidades brasileiras com mais de 320 mil habitantes destinassem seus resíduos para aterros sanitários com planta de biometano, o Brasil poderia alcançar uma produção diária de, no mínimo, 2,86 milhões de Nm³/dia, volume cinco vezes superior à capacidade autorizada atual.

— Em um momento em que se busca alternativas financeiramente viáveis e acessíveis para reduzir as emissões dos gases de efeito estufa, responsáveis pelas mudanças climáticas, não faz sentido que um grande potencial de geração de biometano seja desperdiçado com os resíduos despejados nos três mil lixões espalhados pelo Brasil, em vez de ser destinados aos aterros sanitários com plantas de biometano — aponta Maranhão.

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Fonte: O Globo
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2024/12/10/relatorio-aponta-crescimento-da-reciclagem-de-residuos-no-brasil-mas-persistencia-de-lixoes-preocupa.ghtml