Jornal da USP – 28/02/2025

Na gestão de resíduos sólidos, a coleta e o descarte são priorizados pelas cidades brasileiras, que deixam em segundo plano estratégias sustentáveis como redução, reaproveitamento, reciclagem e logística reversa. Esse modelo, comum também em países de média e de alta renda, limita a efetividade das políticas ambientais. Para aprimorar essa abordagem, uma pesquisadora da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP desenvolveu a ferramenta ISRD (Índice de Sustentabilidade da Gestão de Resíduos Domiciliares), que avalia a sustentabilidade dos sistemas de gestão de resíduos, indo além da tradicional divisão entre as esferas social, econômica e ambiental.

“A ferramenta permite identificar alternativas a serem priorizadas na gestão dos resíduos domiciliares, além de agregar para uma tomada de decisão direcionada na elaboração de políticas, planos, programas, projetos, bem como para a identificação das dimensões mais frágeis e busca de soluções para atacar as causas mais urgentes”, destaca Audrey Moretti Martins, pesquisadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Resíduos Sólidos (Neper) da EESC.

O programa se baseia nas oito dimensões propostas por Robert B. Gibson, que integram os três pilares da sustentabilidade, buscando evitar sobreposições entre eles. Essas dimensões incluem: Integridade do sistema socioecológico; Recursos suficientes para subsistência e acesso a oportunidades; Equidade intergeracional e intrageracional; Manutenção de recursos naturais e eficiência; Civilidade socioambiental e governança democrática; Precaução e adaptação; e Integração entre a situação atual e de longo prazo.

Diferentes formas de avaliação

A ferramenta ISRD é capaz de realizar a avaliação da gestão de resíduos sólidos de variadas formas, permitindo que o usuário utilize os dados primários, como entrevistas e questionários, ou secundários, como dados já publicados em documentos e/ou fontes oficiais, para o seu preenchimento.

“Ao final das mensurações, o índice apresenta sua avaliação em forma de relatório, o qual resume os dados de entrada lançados pelo usuário. As informações são sintetizadas em um gráfico radar com uma escala de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo do 0, maior deve ser a mudança de estratégia que o município precisa para adequar-se aos preceitos da sustentabilidade. Já quanto mais próximo do 1, maior a sustentabilidade detectada na gestão de resíduos domiciliares do município, numa escala que passa por cinco categorizações: altamente desfavorável, desfavorável, médio, favorável, até chegar ao altamente favorável”, detalha a pesquisadora.

Após ser desenvolvida, a ferramenta entra para a fase de testes. Especialistas que participaram da pesquisa estão acessando o programa para obter feedbacks e atualizá-lo. “Além disso, como próximo passo pretendemos expandir sua aplicação para outras regiões do País, ainda em caráter de teste, bem como estruturar o desenvolvimento de outros indicadores de sustentabilidade para os demais tipos de resíduos classificados quanto à origem (limpeza urbana, resíduos de serviços públicos de saneamento básico, resíduos de serviços de transporte, da construção civil, além de resíduos industriais, de serviços de saúde, agrossilvopastoris e resíduos de mineração). Por fim, serão desenvolvidos artigos científicos oriundos da tese”, descreve Audrey.

Fonte: Jornal da USP

https://jornal.usp.br/universidade/alem-da-coleta-e-descarte-ferramenta-promove-a-gestao-sustentavel-de-residuos-solidos-urbanos/

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